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13-08-2008

D. Manuel de Almeida Trindade é o Bispo do Vaticano II


Manuel de Almeida Trindade - Homem do Vaticano e do pós-25 de Abril

D. Manuel de Almeida Trindade partiu para o Pai há 90 anos.

Há dias evoquei D. Manuel de Almeida Trindade como homem que marcou, a seu modo e no seu tempo, uma época quer na Igreja, quer mesmo na Sociedade Portuguesa e recordei alguns traços pessoais, que, por simples que pareçam, mostram o carácter, a personalidade de um homem, com H grande, quer como bispo, quer ainda como escritor de fino quilate, quer como cidadão.

Tive a sorte de participar, na Sé de Coimbra, onde fez cátedra na Universidade, em 1962, pouco tempo depois de deixar terras do Demo, ou das paragens da Pax Júlia, na Planície Alentejana.

Evocar esses tempos é, porventura, salutar, quiçá interpelante! É!... Recordo o primeiro bispo Emérito de Aveiro com muita saudade, mas uma saudade rejubilante, porque acredito que tenho mais um intercessor junto do Pai a rogar por um cidadão; ali, tenho um bispo a quem eu não tinha necessidade de fazer qualquer acto de fé para acreditar que tinha na minha frente um Paulo de Tarso, ou um navegador, um pescador atravessando mares, quaisquer mares, quaisquer Tabores, ou escalador dos Montes de Jerusálem!

Nos meus diálogos, confidenciais ou não, públicos ou jornalísticos, de mais de vinte anos, ia compreendendo que D. Manuel, nascido em terras de Monsanto, em Idanha- a-Nova, na terra que se diz a mais portuguesa, não era qualquer homem, qualquer antístete, mas um homem de olhos meigos, penetrantes, adivinhando, "ab intro", o que muitas vezes nós não tínhamos coragem de, sequer, balbuciar.

E nas conversas jornalísticas, quase diárias, de entrevistas ou comentários, ia entendendo que o homem não se cativa só pelo coração, mas, também, pelos olhos que nos levam a ver mais ao largo - "duc in alto" ("Faz-te ao largo").

E foi nessa comunhão de ideias, discretas, mas profundas, que D. Manuel nos ia cativando, sem se impor.

Perante a sua intelectualidade dialogante, sem adjectivos exagerados ou rebuscados, sentia-me muito pequenino. E mais insignificante ainda me julgava quando via parte das minhas entrevistas transcritas nos seus saborosos livros.

Algumas notas, de entre as milhares espalhadas por vários jornais, alguns já desaparecidos (por exemplo, o Comercio do Porto, o Diário Popular...), recordo o papel decisivo que teve na minha deslocação ao Vaticano, no Sínodo dos Bispos, onde fiz reportagens diárias para os dois diários e alguns semanários.

E depois veio a missiva de João Paulo, respondendo à minha interpelação, quando, no Vaticano, questionei a ausência do Papa na conferência de imprensa.

"Daniel, vem aqui, tenho uma novidade... Que andaste a fazer lá pelo Sínodo? Lê esta carta, lê!", disse-me D. Manuel. Sorriu e deu-me um grande abraço, sanando a minha comoção, mista de eclesialidade e de repórter activo que sempre me prezei de ser, quer com políticos quer com altas figuras da Santa Madre Igreja, mas também pecadora. E fi-lo porque estes homens me ensinaram a viver e a conviver com o povo.

Na vida da sociedade, recordo, ao vivo, porque também estive na comunhão, na partilha, a audácia de D. Manuel na primeira manifestação, a nível de Igreja, após o 25 de Abril. Uma enchente, nunca vista, proclamavam os (alguns) jornalistas que estavam, não do lado da barricada, mas da rota firme da autêntica liberdade. Esta manifestação calou fundo e dizimou alguns apetites desenfreados de alguns revolucionários. E Manuel Trindade veio, de propósito, a correr, de Roma, onde se tinha deslocado em missão, até terras de Aveiro proclamar " urbi et orbi" que os cravos não podiam alimentar-se de terra sem húmus. O homem tem de ser livre na sua verdadeira dimensão.

Esta dimensão viria a ser coroada no 25 de Novembro, mas, sem dúvida, alimentada com as sementes lançadas por Almeida Trindade.

Mas D. Manuel de Almeida Trindade é o Bispo do Vaticano II, um dos últimos a desaparecer. Teve um papel preponderante.

No documento publicado em Julho de 1974, sobre as grandes encíclicas, desde a "Rerum Novarum" até à "Octogesima Adveniens", D. Manuel, no editorial, comentando esses grandes documentos, alude, também ao recente acontecimento, o 25 de Abril, dizendo em linguagem profética que "a vida democrática é um alto ideal que supõe o exercício de muitas virtudes. Será difícil de manter, se lhe faltar o sopro evangélico..."


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